3 de fev. de 2014

Museu não tem idade, museu tem história

No final de 2013, a jornalista Aline Kummrow, do Jornal Diário do Alto Vale, de Rio do Sul, visitou a família e conheceu o Museu Dona Emília. Leia a reportagem: (ou acesse: http://www.diarioav.com.br/museu-nao-tem-idade-museu-tem-historia/)

Máquinas de costura, ferros de passar roupa, cangas, balanças, artigos de ferraria, de caça, de construção civil, da agricultura, da odontologia, da igreja, artesanatos, coleção de moedas, chaveiros… São tantas antiguidades que é difícil lembrar de muitas, já que todas é impossível. O Museu Dona Emília, localizado na comunidade de São Luiz, logo depois do portal de Salete, do lado esquerdo, é mantido pela família Tamanini, entre eles o proprietário do local e da ideia, Bruno e sua esposa Dilma.
Dona Emília é a matriarca da família de Raimundo Taminini, com quem teve 13 filhos. E, em 10 de outubro de 2010, foi homenageado por eles, através do museu que todos ajudaram a criar. “Eu comecei a me interessar por peças antigas há mais de 30 anos, foi quando comecei a pegar as minhas primeiras peças. Algum tempo depois, tentei convencer o poder público de fazermos um museu municipal, a ideia não foi em frente, e por isso, com a ajuda dos meus irmão nós decidimos montar aqui mesmo e dar o nome da nossa mãe”, relembra Bruno, hoje aos 71 anos.
Algumas peças foram/são mesmo da família, mas muitas são doações de amigos e visitantes que conheceram o local e ajudam a construir o museu e preservar a história. “Todo mundo ajuda a construir um pouquinho, é a nossa família que mantém, mas as pessoas têm ajudado muito. Como não cobramos a visita, também não podemos gastar com compra de objetos, alguma coisa a gente acaba comprando, mas muito pouco”, explicou o idealizador.
Das mais de 300 peças que estão em exposição hoje, mais de 200 já estão catalogadas e com um pequeno histórico que facilita para os visitantes saber mais sobre ela. Esse trabalho é feito por um dos irmãos de Bruno, que reúne as informações do doador da peça com pesquisas na internet para montar o histórico. “Toda a irmandande ajuda de alguma maneira, queremos catalogar tudinho, sabemos que isso é bastante importante, e aos poucos estamos fazendo”. Muitas peças que chegam até o museu precisam de algum tipo de restauro ou manutenção, e esse trabalho também é feito pela família, o próprio Bruno tem uma pequena ferraria em casa onde conserta o que pode.
Para a esposa Dilma, o museu é algo que dá prazer. “Dá trabalho sim manter isso aqui, mas também é um trabalho que dá prazer, que faz bem”. Bruno é mais taxativo: “se as peças não estiverem num museu como que as outras gerações, essa juventude, vai poder conhecer a história? Como vão dar valor aos antepassados? Quem não tem história não tem memória”.
Um pouquinho de história 
Já na entrada no Museu Dona Emília estão algumas pedras que, de acordo com Bruno, têm milhões de anos. “Essa aqui é de milhões de anos atrás quando aqui era mar, essa pedra achamos aqui na localidade de Santo Antônio quando um vizinho foi abrir uma arrozeira. A pedra tem marcas de conchas, e até conchas cravadas nela”. De fato foi isso que conseguimos visualizar, as marcas de um lado da pedra são bastante claras, assim como as conchas em si do outro lado. O proprietário garante que apenas um verniz foi passado na peça.
Num espaço indígena, além de artesanatos de várias tribos, é possível conhecer os utensílios usados pelos índios na hora da caça, uma lança que segundo Bruno era utilizada para matar as onças e o tradicional machado de pedra. A curiosidade nesta área do museu, é que muitas peças foram “roubadas” por visitantes, alunos que não entenderam o significado do museu. “A gente coloca placa que não pode mexer, mas as vezes não escutam, agora coloquei essa tela para tentar diminuir isso”.
A equipe do Jornal Diário do Alto Vale assinou o livro de presença no número 2.713, essa é a quantidade de pessoas que passaram pelo local e deixaram suas assinaturas e cidade de origem, mas de acordo com Dilma, o número de visitantes é bem maior. Ela ainda comentou sobre a diferença do interesse das pessoas. “Algumas pessoas vêm de curiosos, outros porque gostam e muitos são estudantes. Cada um tem um jeito diferente, tem daqueles que se interessam e tomam conta e outros que só dão uma olhada e vão embora”.
Algumas das peças em exposição ainda funcionam, como é o caso de uma máquina de costura. Outras lembram história, como é o caso de um baú que foi a primeira mala da irmã de Bruno. “Por muitos anos a minha cunhada só tinha esse baú para levar as roupas para o convento, só depois de anos que ela ganhou uma mala de verdade. Esse baú tem mais de 70 anos”, contou Dilma.
Utensílios usados na agricultura, nas ferrarias, no cotidiano das pessoas há muitos anos remetem a lembranças, e Bruno conta como tudo funcionava, tanto para laçar um boi em local acidentado, como para fazer assoalhos com peças de encaixe, ou aquelas capas de dente de ouro, tão tradicionais em algumas gerações. “Nem sempre tivemos a tecnologia a nosso favor, muito era feito com muito arroz e feijão (braços) e muita dedicação”.
Entre as peças mais antigas do Museu Dona Emília está uma armadilha para animais de 1875, e um tipo de macaco mecânico de 1881. Além de uma lousa escolar, que as crianças levavam para escola antes mesmo do caderno.
Dedicação e fé 
Quem chega na propriedade de Bruno e Dima Tamanini já percebe, mesmo antes de entrar, que a natureza está presente e com muita vontade. Através de um portão que tem pintada a bandeira do Brasil e de um portal inscrito em madeira o nome do museu, você inicia a viagem no tempo e na fé. Além do Museu Dona Emília, Bruno iniciou em julho a construção de uma via-sacra, o trajeto seguido por Jesus Cristo carregando a cruz. “Tinha um espaço que já estava preparando para fazer uma gruta de Nossa Senhora Perpétuo Socorro, de quem minha mãe era muito devota, quando o hermano Papa Francisco veio ao Brasil, tive a ideia então de fazer algo mais, e construí a via-sacra”, descreveu Bruno.

Em uma trilha curta em meio a natureza, é possível passar pelas 14 tradicionais estações da Paixão de Cristo, até chegar a 15ª estação que o momento da ressurreição de Jesus. Bruno cuidou de cada detalhe, pregou uma ripa de madeira com uma casinha na ponta, lá além da imagem de Jesus, também a descrição da estação e uma mensagem de reflexão. Embaixo no pé da estação uma muda de copo de leite foi plantada. Ao fim da via-sacra, passamos pelo local que aguarda a chegada da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e um pouco mais a frente uma pequena casinha que, segundo Bruno e Dilma, é para reflexão, para orações, ou simplesmente para descansar.